quarta-feira, 6 de julho de 2011

TRANSGÊNICOS E BIOÉTICA



A contribuição bioética é fundamental na busca de caminhos viáveis diante de conflitos que surgem entre a moral e a conveniência de se adotar alimentos alterados geneticamente, por exemplo. Pois através da abordagem bioeticista haverá a confrontação entre o funcional e o tradicional, o sagrado (intocável ) e aquilo que é vulnerável à ação humana e, portanto, mutável. Os debates bioéticos proporcionam o encontro de opiniões divergentes que almejam algo comum: a vida em sociedade apesar da pluralidade de atores sociais existentes.
Com o advento da Revolução Tecnológica que ocorreu no século XX, emergiram os chamados
Direitos de “quarta geração”. Tais direitos visam à regulamentação das questões referentes
à biotecnologia, à bioética e engenharia genética. Em outras palavras, esses “novos” direitos
relacionam-se com a vida humana, com a reprodução assistida, com a eutanásia, com a clonagem e com os organismos geneticamente modificados, também denominados transgênicos.
Os transgênicos são alimentos manipulados geneticamente, através da tecnologia do DNA recombinante que proporciona, entre outros: a transferência de genes animais para espécies vegetais e vice-versa; e retirada de genes responsáveis, por exemplo, pela reprodução da planta.
A pesquisa sobre os transgênicos foi iniciada na década de 1970 nos países desenvolvidos, mais especificamente nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa.
No Brasil deu-se início às discussões referentes ao assunto apenas no ano de 1995, com a edição da Lei de Biossegurança (Lei no 8.974/95). Esta, por sua vez, liberou o plantio dos transgênicos para a realização de testes, sob constante fiscalização das autoridades públicas. Vale notar que o plantio dos transgênicos concentra-se na região Sul do país e como exemplos deles temos: a soja Roundup-ready, o milho Bt e a canola Higt-Olaic.
O QUE SÃO TRANSGENICOS?
Transgênico ou Organismo Geneticamente Modificado (OGM) é o organismo cujo material genético (DNA/RNA) tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética, recebendo genes exógenos (oriundos de espécies diferentes, não correlacionadas).
Considerando que o gene é uma parte do DNA que possui um código genético para produzir certa proteína específica, e que este gene é composto por uma seqüência de bases nitrogenadas, pode-se fazer a seguinte analogia: as bases nitrogenadas são letras, os genes são palavras, o DNA (ou o cromossomo) que contém estes genes são frases e o organismo é um texto. As letras devem estar ordenadas para que a palavra tenha sentido; as palavras combinam-se de tal forma que a frase também tenha sentido e as frases devem compor o texto de modo lógico. Qualquer letra, palavra ou frase com problema levará a um texto distorcido, o que resulta num organismo com problema. Observa-se, portanto, que transferir um gene de um organismo para outro não é tarefa fácil, pois este deverá funcionar em local e época adequada, de modo a não interferir erroneamente no funcionamento do ser vivo. Imagine o que ocorreria se um gene que deveria funcionar no fígado apenas estivesse ativo no ouvido. Seria uma confusão. Felizmente nosso organismo já está suficientemente evoluído e todos os genes sabem onde funcionar. Cabe aqui lembrar que todas as células do nosso corpo são totipotentes, ou seja, possuem a mesma constituição genética e pode-se regenerar um novo organismo a partir desta célula (exceto os gametas).
Mas fazer um determinado gene funcionar em hora e local apropriado não é o único problema. Imagine como seria difícil encontrar uma pessoa numa cidade de cerca de 40.000 habitantes. Pois bem, cada célula somática do corpo humano possui cerca de 40.000 genes, cada um com sua função específica. Procurar um gene não é tarefa nada fácil. Mas existem técnicas que nos ajudam nesta tarefa, como por exemplo determinar o cromossomo onde este gene se localiza e também sua função.
As principais etapas para a transformação de um organismo são: identificação do gene, isolamento (ou extração), clonagem (ou multiplicação) e introdução no organismo receptor. Depois basta verificar seu funcionamento. Pode parecer simples, mas não é, como já verificamos anteriormente.
Como se faz um transgênico
Para fazer um transgênico, os cientistas usam a técnica De recortar o DNA de uma espécie para depois colar esse fragmento recortado no DNA de outra espécie. O método mais comum para produzir transgênicos utiliza uma bactéria como elemento intermediário. O gene de interesse é introduzido na bactéria, que, depois, é usada para infectar a célula de um animal ou planta. Ao fazer isso, a bactéria transfere parte de seu DNA para o organismo que infecta e, junto, vai o gene de interesse.

Algumas plantas – tomate, batata, frutas cítricas e cenoura, por exemplo são mais fáceis de modificar geneticamente do que outras. Isso porque podem se regenerar em laboratório a partir de uma única célula em cultura. E é muito mais simples manipular genes em células isoladas do que em um organismo multicelular inteiro.
Enzimas de restrição
O desenvolvimento de organismos geneticamente modificados só foi possível com a descoberta das chamadas enzimas de restrição, no início da década de 1960. Estudando o sistema de defesa de certas bactérias diante de determinados vírus, os cientistas perceberam que elas produziam um sistema de enzimas que reconhecia o DNA do vírus invasor e 'cortava-o' para, assim, desativá-lo. Essas enzimas ganharam o nome de endonucleases de restrição, ou enzimas de restrição.
As enzimas de restrição são como tesouras moleculares de enorme precisão: existem vários tipos e cada tipo corta o DNA apenas nos locais onde existem sequências de bases nitrogenadas nas quais conseguem se encaixar, fazendo a molécula se transformar em fragmentos de tamanhos variáveis.
DNA recombinante
Com a descoberta das enzimas de restrição, os cientistas aprenderam a produzir os chamados “fragmentos de restrição”, que são usados para ligar pedaços de DNA de diferentes origens, pois suas extremidades são complementares – quer dizer, encaixam-se às bases dessa cadeia, como peças de dominó que formam uma sequência.
É assim que são produzidas moléculas de DNA recombinante, o passo mais importante para a manipulação genética. Para visualizar esse processo, imagine o DNA como uma escada em forma de caracol (a hélice dupla). Em cada degrau há duas bases (adenina e timina, citosina e guanina), que se combinam entre si. No processo de transgenia, um trecho dessa escada é quebrado e, em seu lugar, introduzido um trecho de DNA recombinante.
A técnica foi usada para introduzir diferentes tipos de gene em bactérias para que estas produzissem substâncias como insulina, hormônio do crescimento (GH) etc.
Bactéria, veículo de genes
As bactérias são usadas como veículo de genes porque têm um fragmento circular de DNA chamado plasmídeo que, no momento de uma infecção, é transferido para o organismo infectado. É nos plasmídeos que os genes de interesse são introduzidos. Eles são os vetores de transgenia.
O vetor mais comumente usado em plantas é um plasmídeo da bactéria Agrobacterium tumefaciens (o plasmídeo Ti, ou indutor de tumor), que causa uma doença caracterizada por um tumor muito grande. Os cientistas conseguiram criar maneiras de eliminar as propriedades desses plasmídeos que causam os tumores, mantendo, no entanto, sua capacidade de transferir seu DNA para as células das plantas.
Mas porque os transgênicos causam tanta discussão? Basicamente pelo fato de que os efeitos de se transferir genes exógenos não são conhecidos. No melhoramento clássico observamos que, ao buscarmos introduzir um gene desejado para melhorar certa cultivo de planta, outros genes são “arrastados” com o gene que se deseja introduzir (isto é chamado de “Linkage-drag”), pois há ligação gênica entre os genes de um mesmo cromossomo. Assim sendo, junto com o gene benéfico que desejamos introduzir, pode vir outro gene prejudicial ligado a ele. Some-se a isso que os cruzamentos só podem ser realizados entre indivíduos próximos, normalmente de uma mesma espécie ou entre espécies muito próximas. No caso dos transgênicos não há barreiras entre espécies, sendo o gene retirado de uma espécie e introduzido em outra, além de ser transferido sozinho, sem nenhum outro gene ligado a ele.



Alimentos Transgênicos na Qualidade de Vida
A alteração genética é feita para tornar plantas e animais mais resistentes e, com isso, aumentar a produtividade de plantações e criações. A utilização das técnicas transgênicas permite a alteração da bioquímica e do próprio balanço hormonal do organismo transgênico. Hoje muitos criadores de animais, por exemplo, dispõe de raças maiores e mais resistentes à doenças graças a essas técnicas.
Os transgênicos já são utilizados inclusive no Brasil. Mas ainda não existem pesquisas apropriadas para avaliar as conseqüências de sua utilização para a saúde humana e para o meio ambiente.
Pesquisas recentes na Inglaterra revelaram aumento de alergias com o consumo de soja transgênica. Acredita-se que os transgênicos podem diminuir ou anular o efeito dos antibióticos no organismo, impedindo assim o tratamento e agravando as doenças infecciosas. Alergias alimentares também podem acontecer, pois o organismo pode reagir da mesma forma que diante de uma toxina. Outros efeitos, desconhecidos, a longo prazo poderão ocorrer, inclusive o câncer.


Transgênicos e o Meio Ambiente
A resistência a agrotóxicos pode levar ao aumento das doses de pesticidas aplicadas nas plantações. As pragas que se alimentam da planta transgênica também podem adquirir resistência ao pesticida. Para combatê-las seriam usadas doses ainda maiores de veneno, provocando uma reação em cadeia desastrosa para o meio ambiente (maior quantidade de poluição nos rios e solos) e para a saúde dos consumidores.
Uma vez introduzida uma planta transgênica é irreversível, pois a propagação da mesma é incontrolável e não se pode prever as alterações no ecossistema que isso pode acarretar.

Melhoramentos de Plantas
Atualmente as técnicas de utilização de transgenes vêm sendo amplamente difundidas. Assim um número crescente de plantas tolerantes a herbicidas e à determinadas pragas tem sido encontradas. O problema é que as plantas transgênicas são iguais ao alimento natural, o que é injusto, pois o consumidor não sabe que tipo de alimento está consumindo.
Uma nova variedade de algodão por exemplo, foi desenvolvido a partir da utilização de um gene oriundo da bactéria Bacillus thuringensis, que produz uma proteína extremamente tóxica a certos insetos e vermes, mas não a animais e ao homem. Essa planta transgênica ajudou na redução do uso de pesticidas químicos na produção de algodão.
Tecnologias com uso de transgenes vêm sendo utilizadas também para alterar importantes características agronômicas das plantas: o valor nutricional, teor de óleo e até mesmo o fotoperíodo (número de horas mínimo que uma planta deve estar em contato com a luz para florescer).

A Utilidade dos Produtos Transgênicos
Com técnicas similares àquela da produção de insulina humana em bactérias, muitos produtos com utilidade biofarmacêuticas podem ser produzidos nesses animais e plantas transgênicas. Por exemplo, pesquisadores desenvolveram vacas e ovelhas que produzem quantidade considerável de medicamentos em seus leites. O custo dessas drogas é muito menor do que os produzidos pelas técnicas convencionais.
A tecnologia transgênica é também uma extensão das práticas agrícolas utilizadas há séculos. Programas de cruzamentos clássicos visando a obtenção de uma espécie melhorada sempre foram praticados. Em outras palavras, a partir de uma espécie vegetal qualquer e realizando o cruzamento entre um grupo de indivíduos obteremos a prole chamada de F1. Dentre os indivíduos da prole, escolheremos os melhores que serão cruzados entre si, originando a prole F2. Sucessivos cruzamentos a partir dos melhores indivíduos obtidos em cada prole serão feitos.
Todo esse trabalho busca a obtenção de indivíduos melhorados. Essa técnica trabalhosa e demorada de melhoramento vem sendo amplamente auxiliada pelas modernas técnicas de biologia molecular. Com isso as espécies são melhoradas com maior especificidade, maior rapidez e flexibilidade, além de um menor custo. Mas ainda não se pode afirmar quais as conseqüências que esses produtos podem ter no organismo humano, animal e no meio ambiente. Faltam pesquisas científicas que comprovem as verdadeiras implicações dos alimentos transgênicos.
REFERÊNCIAS
 http://www.scientiaplena.org.br
 http://bioetica-e-biotecnologia.wikidot.com
 http://www.ufrgs.br/bioetica/transg1
 http://www.ufrgs.br/bioetica
 http://www.mundodoquimico.hpg.ig.com.br
 http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs
 http://www.jornalocaminho.com.br/noticia
 http://biblioteca.universia.net/

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